terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Botecos, Butecos e Botequins.


Já dizia um grande amigo que "o lar do boêmio é o botequim". Mesmo que não seja inteiramente verdade o ditado é bom, retrata o espírito do boêmio e seu habitat. Agora boteco, buteco e botequins são diferentes ? Não e sim. Primeiro o "não".

A igualdade reside na finalidade e no espírito de seus habitantes e visitantes. E a diversidade está no lugar, no sítio onde se encontram e na origem. Começamos pelo último.

O botequim é o lar do boêmio carioca. Na verdade serviu de inspiração, pela antiguidade e ainda que remota, aos demais. O Celso Japiassu, no belo artigo Pequeno Guia Pessoal dos Botequins Cariocas bem coloca que sendo "criação dos imigrantes portugueses, os botequins surgiram primeiro no Rio de Janeiro, de onde partiram para conquistar o resto do Brasil. O Rio orgulha-se dos seus botequins e lhes devota a importância que Londres atribui a seus pubs e Paris a seus bistrôs." Verdade é que teve origem nas boticas dos portugueses. Lugar onde se encontrava de tudo, miudezas, secos e molhados; inclusive bebidas. O carioca ia a esses lugares se abastecer e acabava por comprar alguma bebida para lá mesmo consumir com o acompanhamento de petiscos baratos. Os outros itens acabaram por dar lugar à boa bebida e aos petiscos e a conversa passou a se dar ao redor de mesas que passaram a se apresentar em maior número que uma ou duas na origem. Um típico bar carioca é o Bracarense, na Rua José Linhares, no Leblon.

O buteco já é mineiro. Veio daquele "bar do mercado" que passou a ter mesas, a maioria no passeio público, onde boas cachaças eram, e são, degustadas com petiscos típicos, com especial ênfase aos torresmos. Em Minas, especialmente em BH, os petiscos evoluiriam para o que se chama de "comida di buteco" que vai do tradicional torresmo até a tilápia a dore com molhos diversos. O Peixe Frito é um ótimo exemplo do "buteco" mineiro, fica na Rua Juiz de Fora, no Barro Preto.

Finalmente chegamos ao BOTECO. Esse sim paulista. Paulistano de origem e com alguma inspiração mineira e carioca, mais mineira ao nosso ver. Nasceu como bar, aquele velho "bar e lanches" do ponto final do ônibus. O balcão ficava apinhado nos fins de tarde e a calçada passou a ser ocupada por mesas de armar que, até as seis da tarde, se mantinham desmontadas. Após esse horário, montadas dentro do recinto ou no passeio público, passam a receber "roda de amigos", casais e solitários que assim querem ficar ou que lá chegam a procura de alguém conhecido, ou não. A cerveja, estupidamente gelada, passou a disputar espaço com os cotovelos, os bolinhos de ovo e as coxinhas fritas na hora pela mulher do dono do bar. O boteco tem menos torresmo que o seu irmão mineiro e pouca batata frita, na forma do primo carioca; agora é difícil não encontrar a "calabresa acebolada" a "lingüiça na cachaça" e o "kibe".

Ouso afirmar que o nosso "boteco" tem mais origem na "bottega" e na "bodega" que na "botica". Nosso boteco não nasceu como armazém, já nasceu boêmio, nosso boteco já nasceu como a casa do boêmio, não se "transformou em" e sim "cresceu sendo". Esta é a grande diferença.

2 comentários:

  1. Muito bom o artigo Dr.E diga-se então que o lar do boêmio vai do botequim carioca ao boteco paulista!

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  2. E se a gente pudesse voltar no tempo?
    O que eu faria - se fosse possível ?
    Faria uma peregrinação pelos botecos da minha querida cidade de São Paulo.

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